O sorriso no rosto desde o início do
processo é fruto de um trabalho de anos. Com os longos cabelos louros
acomodados nos ombros ainda antes do corte, a pequena Penéllope Cristo
tinha ciência do que a levou ao salão de beleza na manhã de terça-feira.
“Eu vou dar o meu cabelo pras crianças escalpeladas”.
Preparada desde os dois anos de idade para o
momento em que teria os cabelos doados, o pedido da menina de apenas
cinco anos foi o mais simples possível. Do novo e primeiro corte, ela
esperava apenas que pudesse deixar o pescoço à mostra e cultivar uma
franja. “Tá gostando do seu novo visual, filha?”, emocionava-se a mãe
Edivani Cristo, ao receber da filha o sinal de positivo com a cabeça.
Concretizado o momento planejado desde o
nascimento da primogênita, a emoção foi inevitável não apenas para a
mãe, mas também para o pai. Diante do abraço emocionado, as lágrimas
correram fáceis pelo rosto. “Olha, é o primeiro corte de cabelo!”,
considerou um. “São cinco anos de planejamento”, constatou o outro.
Ainda antes do nascimento de Penéllope, a
possibilidade de promover a doação veio com o anúncio de que nasceria
uma menina, ainda que a ideia já existisse nos pensamentos do pai
Anderson Cristo algum tempo antes. “Veio a notícia de que era uma
menina, o nascimento e a ideia de fazer a doação”, lembra. “Antes dela
nascer, quando eu ainda era solteiro, vi uma reportagem sobre as pessoas
vítimas de escalpelamento e aquilo me comoveu bastante”.
A importância do gesto planejado pelos pais
foi repassada a Penéllope desde os primeiros anos de vida, sem nunca
deixar de lembrar os motivos que a levariam a realizar o primeiro corte
de cabelo apenas após o 5º ano de idade.
“À medida que ela foi crescendo, fomos passando pra ela a ideia. A ideia de compartilhar o que ela tem de muito com outras crianças que não têm”, reforçou Anderson. “O que queríamos é incentivar outras crianças a fazer da mesma forma. Tirar essa ideia do comércio, da venda já que tem tantas pessoas que precisam”.
“À medida que ela foi crescendo, fomos passando pra ela a ideia. A ideia de compartilhar o que ela tem de muito com outras crianças que não têm”, reforçou Anderson. “O que queríamos é incentivar outras crianças a fazer da mesma forma. Tirar essa ideia do comércio, da venda já que tem tantas pessoas que precisam”.
Sem que a ideia fosse aceita de pronto pela
criança, que ainda não entendia o significado do gesto, o papel da
família foi fundamental para que a entrega da doação fosse concretizada
logo após a saída do salão. “Ela nasceu agraciada com esse cabelo e como
não caiu, como geralmente acontece com os bebês em determinada fase,
decidimos não cortar. Já fomos aparar as pontas quando o cabelo já
estava no meio das costas”, lembra a mãe, Edivani. “Quando ela completou
dois anos começamos a falar pra ela que iríamos doar o cabelo dela e, a
princípio, ela não quis. Ela pensava que o cabelo dela não ia mais
crescer, mas fomos trabalhando, mostramos o exemplo de coleguinhas que
cortaram o cabelo que depois cresceu de novo e ela entendeu”.
Um mágico encontro entre meninas sem diferenças
Moradores do município de Mãe do Rio, a família se deslocou até Belém especialmente para concretizar o gesto. Na saída do salão logo após o corte, eles também fizeram questão de entregar a doação no Espaço Acolher da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, um dos locais que recebe esse tipo de doação.
Um mágico encontro entre meninas sem diferenças
Moradores do município de Mãe do Rio, a família se deslocou até Belém especialmente para concretizar o gesto. Na saída do salão logo após o corte, eles também fizeram questão de entregar a doação no Espaço Acolher da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, um dos locais que recebe esse tipo de doação.
Sem que fosse necessário muito tempo de
contato, rapidamente a pequena Penéllope já dividia o batom com a também
pequena Viviane Araújo. Natural do município de Curralinho, Viviane
sofreu escalpelamento parcial no ano passado, ainda aos seis anos de
idade. “A doação é imprescindível para a confecção de perucas porque
muitas vezes as vítimas de escalpelamento não vão mais conseguir ter
seus cabelos de volta”, explica a assistente social e coordenadora do
Espaço Acolher, Luzia Matos. “Por isso sempre fazemos campanhas para as
meninas sempre terem perucas para tentar suprir essa falta”.
Entendidas da importância do gesto realizado
em poucos minutos e finalizado com um abraço sincero, as duas meninas
só se preocupam em brincar, como se a amizade já perdurasse há bastante
tempo.
Também vítima de escalpelamento, Analice
Maia Gomes, de 15 anos, não deixou de agradecer a ação da doadora tão
jovem. “É um gesto muito bonito ainda mais nessa idade”, considerou.
“Essas doações fazem toda a diferença”.
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