A pressão provocada pelos reajustes das tarifas das distribuidoras de
energia na inflação brasileira em 2014 deve se repetir com ainda mais
força no próximo ano. Estudo da consultoria Thymos Energia indica que os
problemas enfrentados pelo setor elétrico, adicionados ao início do
cronograma de pagamento pelo suporte financeiro dado pelo Tesouro ao
setor, devem resultar em reajustes de mais de 20% em 2015. Para este
ano, os aumentos devem seguir um patamar considerado mínimo de 15%,
embora o aumento a ser aprovado pela Agência Nacional de Energia
Elétrica (Aneel) seja específico para cada distribuidora.
A análise, explica o sócio-diretor da Thymos, Ricardo Savoia,
considera premissas do setor e o cronograma previsto inicialmente de
pagamento dos recursos repassados pela União às distribuidoras. Não
inclui, portanto, eventuais novos repasses federais e possíveis mudanças
climatológicas bruscas que venham a afetar a formação de preços de
curto prazo (PLD) e influenciar a exposição financeira das
distribuidoras.
O levantamento mostra que o reajuste das tarifas em 2014 deve atingir
patamar mínimo de 12,1%, número a ser somado à inflação de 12 meses. Ou
seja, um aumento entre 15% e 20%, em linha com o aumento de 16,69%
pedido pela AES Eletropaulo à Aneel - o porcentual será anunciado nesta
semana pela agência. Há casos como o da Copel (35,05%), contudo, em que
os reajustes chegam a mais de duas vezes esse patamar mínimo, dado que a
recomposição deve respeitar o ambiente setorial e também as
especificidades de cada distribuidora.
Para 2015, o reajuste teria como premissa um efeito equivalente a um
reajuste de 20,8%, além da inflação. "Podemos dizer que 70% a 80% desse
valor já está definido", destaca Savoia, sugerindo que há pouco espaço
para que o reajuste seja menor, mesmo em um cenário hidrológico mais
favorável. "Se tivermos uma melhor hidrologia, o número pode cair um
pouco, mas não deve mudar muito porque os grandes empréstimos já foram
realizados", complementa. Novos repasses federais ou um cenário
hidrológico ainda mais adverso, por outro lado, poderiam provocar
impacto adicional nas tarifas do próximo ano.
O efeito prático do reajuste mais elevado das distribuidoras seria um
impacto maior de energia elétrica no IPCA de 2015. Se confirmada a alta
de 20,8% de reajuste médio das tarifas, além da inflação, no próximo
ano, como propõe o estudo da Thymos, o peso da energia elétrica no IPCA
poderia chegar a 3,7%. Os cálculos foram feitos pelo economista Étore
Sanchez, da LCA Consultores, a pedido do Broadcast. Ou seja, a cada R$
100 reais da cesta de produtos que compõem o IPCA, o consumidor
destinará R$ 3,70 para a energia, explica o economista.
Se as tarifas médias subissem a 20,8% no próximo ano, a inflação
poderia chegar a 6,42% - e não 6,10%, como prevê a LCA. O aumento da
energia - reajuste já considerando inflação - chegaria a 28,55% no ano.
Este não é, no entanto, o cenário esperado pela LCA. Sanchez prevê
alta de 10% no item energia elétrica no ano que vem, o que gera impacto
de 3,15% na inflação oficial. Importante destacar que o cenário do
economista é um recorte das distribuidoras presentes nas 11 regiões
metropolitanas do País pesquisadas para o IPCA, o que exclui, por
exemplo, empresas como a CPFL.
Para esperar a alta de 10% na energia elétrica no próximo ano,
Sanchez considera que algumas companhias sediadas nas regiões analisadas
pelo IBGE passarão por um processo de revisão tarifária periódica em
2015. "Na revisão tarifária são considerados os ganhos de produtividade e
por isso há descontos. Além disso, ano que vem se inicia o pagamento do
que é devido também com relação aos empréstimos, mas ainda não foi
definido o fluxo de pagamento. Foi definido o período de pagamento, mas
não as proporções", diz o economista.
O cenário da LCA para o próximo ano considera IPCA de 6,10% em
dezembro, alta de 10% na energia elétrica no indicador e peso de 3,15%
na cesta de produtos. Para 2014, o cenário é de aumento de 14% no item
energia, alta de 6,50% no IPCA e contribuição de 2,86% do item na
inflação oficial.
Pressão
Os reajustes mais expressivos a serem concedidos às distribuidoras de
energia em 2014 e 2015 têm origem em um desarranjo setorial estimado em
cerca R$ 80 bilhões pela Thymos. O valor reflete uma combinação de
fatores, como o atraso de projetos de energia e a aprovação da MP 579,
os quais resultaram em uma exposição involuntária dessas companhias; a
necessidade de despacho das térmicas diante do cenário hidrológico
adverso; e encargos. "Se fôssemos pagar esse valor de uma vez, seria
preciso reajustar em 80% a tarifa média de todo o País durante um mês",
compara Savoia.
Como consequência desse momento particular, o setor precisou ser
socorrido pelo governo federal em diferentes oportunidades. Em março
passado, na última grande operação de socorro ao setor, foram liberados
mais de R$ 11 bilhões, o que eleva a conta de auxílio federal às
distribuidoras para quase R$ 25 bilhões. A esse número se somam custos
decorrentes do despacho térmico e do leilão emergencial ocorrido em
abril passado.
Essa conta chegará aos consumidores através de reajustes e tarifas
mais altas principalmente entre 2015 e 2020, prazo para a devolução do
valor destinado às distribuidoras. O cenário traçado pela consultoria
indica que os preços da energia voltarão a níveis compatíveis com os
dados de 2014 apenas em 2020. Tais cálculos não incluem, contudo, a
necessidade de despacho térmico e aspectos hidrológicos a partir de
2015, tampouco possíveis impactos na tarifa provocados pela aplicação
das bandeiras tarifárias, prevista para o início de 2015. Ambos os
fatores têm potencial para uma pressão adicional nos reajustes anuais
das distribuidoras.
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