Pergunta de vestibular: o que foi
preciso para que a violência no Estado do Pará explodisse, aumentando em
mais de 120% em apenas uma década? A informação vem do último Mapa da
Violência, do sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz, lançado esse ano, que
analisa o cenário de mortes violentas ocorridas em todo o país entre os
anos de 2002 e 2012 - o que, no Pará, corresponde a uma gestão e meia do
PSDB, entre 2002 e 2005, e de 2010 até hoje, sendo que esta última já
carrega nas costas uma greve das polícias Civil e Militar, e uma do PT,
entre 2007 e 2010.
O documento, disponível integralmente
para download no www.mapadaviolencia.org.br, mostra que o crescimento do
número de homicídios registrados é, de fato, uma realidade nacional, e
de cerca de 13% na década supracitada. Só que sendo mais específico, o
estudo informa que os quantitativos crescem principalmente no Norte,
onde os números duplicam no Pará e também no Amazonas e Tocantins.
Importante dizer que, enquanto a região registra 71% de aumento, o Pará,
sozinho, registra quase o dobro, 126,9%. É a sexta capital em volume de
aumento no número de homicídios registrados - um crescimento
“explosivo”, como dito pelo próprio autor da pesquisa. “Goiás, Bahia,
Sergipe, Pará e Paraíba, que em 1998 apresentavam índices relativamente
baixos, em 2012 passam a ocupar lugares de maior destaque nessa nova
configuração”, reforça material.
Veja, aqui, o quadro comparativo dos números de homicídios, latrocínios, furtos e roubos, registrados nos anos de 2013 e 2014.
QUADRO PIORA
QUADRO PIORA
O Mapa da Violência ainda não divulgou
os números para os anos de 2013 e 2014, mas dados do Sistema de
Informações de Segurança Pública (Sisp) e dados obtidos pelo DIÁRIO
junto ao Sindicato de Policiais Civis do Pará já mostram que a situação
não está melhorando - ao contrário do que prega a ilusória e
inflacionada propaganda governamental, a mesma que ganhou um bônus de R$
15 milhões no Orçamento Geral do Estado 2014, em relação o OGE de 2013,
enquanto a Segurança Pública perdeu R$ 86 milhões, de acordo com o
mesmo planejamento: entre janeiro e junho desse ano, já foram
registrados 1.872 homicídios, contra os 1.832 registrados no mesmo
período do ano anterior.
“É um crescimento discreto, mas que
preocupa pela tendência ao agravamento”, afirma o antropólogo e
professor da Universidade Federal do Pará (UFPA), Romero Ximenes. “A
motivação do homicídio, do latrocínio precisa ser vista de forma
globalizada. Para começar, o crime é sintoma, e não causa. Seus
praticantes são jovens e residem, muito geralmente na periferia. Um
total de 82% da população de Belém tem uma renda familiar de dois
salários mínimos, que não pode acompanhar o padrão de consumismo imposto
pelo atual sistema de mercado que temos. Quando esse consumo não pode
acontecer por bem, vem a delinquência”, analisa. “Não há como dizer que
não há repressão porque a polícia está prendendo mais e a Justiça
condenando mais. Acontece que só isso não basta, até porque a ‘máquina
de produção’ de transgressores trabalha bem mais efetivamente do que o
sistema que os pune”.
Em relação ao crescimento do número de
homicídios registrados entre 2002 e 2012, Ximenes é categórico. “Poderia
ter sido ainda maior não fossem os programas assistenciais, como o
Bolsa Família, do Governo Federal, por exemplo. A criminalidade vai além
da questão de polícia, embora, é claro, o desejado é que haja uma
gestão, um sistema que funcione melhor, ainda mais quando se sabe que há
grupos que comandam o crime até mesmo de dentro dos presídios. Por
exemplo, não é do feitio das gestões tucanas o investimento em questões
salariais do funcionalismo, e quando isso acontece na polícia, é
complicado. Há até um jargão utilizado entre eles mesmos, que diz que
polícia mal paga é polícia que se paga, ou seja, que busca melhorar a
renda de outras formas, em atividades ilícitas, se valendo do poder
oriundo de suas profissões”, detalha o antropólogo.
“A Polícia é ingrediente na prevenção do
crime, não é solução, não é quem vai zerar com a criminalidade, até
porque isso não existe, é como acabar com o tráfico de drogas. Essa
falta de controle da violência só pode ser sanada com o aumento das
oportunidades, da distribuição de renda”, avalia o professor.
SEGUNDO PIOR
SEGUNDO PIOR
Esta não é a primeira vez que os índices
alarmantes do Pará ganham destaque em estudos e pesquisas do gênero. No
final do ano passado, a Secretaria Nacional da Segurança Pública do
Ministério da Justiça (Senasp/MJ) divulgou o resultado da primeira
edição da Pesquisa Nacional de Vitimização, que colocou o Pará no
segundo lugar no ranking da violência contra pessoas: 35,5% dos
entrevistados afirmaram ter sido vítimas de algum tipo de crime -
agressão, discriminação, furto de objeto, fraude, acidente de trânsito,
roubo de objeto, furto de carro, ofensa sexual, furto de moto, roubo de
carro, roubo de moto e sequestro relâmpago - durante todo o ano de 2013.
Em Belém, o índice subia para mais de 40%. A média brasileira estava,
como sempre, abaixo, em 21%. Já no início de 2014, a ONG Conselho
Cidadão para a Segurança Pública e Justiça Penal, com sede no México
“elegeu” Belém a 23ª cidade mais violenta do mundo, com uma taxa de
48,23 homicídios para cada 100 mil habitantes - sendo que no ano
anterior, a capital paraense estava na 26ª posição.
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