O acidente ocorrido na Av. João Paulo
II, em Belém, na madrugada do último domingo, 25, envolvendo um único
veículo de passeio que vinha de um show realizado no Entroncamento e
com sete passageiros a bordo - sendo que três deles, morreram na hora -
mostrou mais uma vez que, na batalha da fiscalização efetiva do
trânsito contra a condução irresponsável, o primeiro ainda perde feio
do segundo.
Basta dar uma volta pela capital
paraense, passando por perto do circuito de bares e restaurantes da
capital paraense para perceber que a combinação álcool e volante ainda é
uma constante na vida dos jovens e dos nem tão jovens assim - sem
falar nos sempre movimentados postos de gasolina e suas lojas de
conveniência, que vendem e permitem ali mesmo o consumo de bebida
alcoólica até o início da madrugada mesmo em dias de semana. O que
significa que acidentes trágicos, como o que ocorreu no último final de
semana, podem sempre estar na iminência de se repetir. E isso porque a
legislação que impõe tolerância zero para o consumo de álcool por
parte de motoristas, a Lei 11.705, a Lei Seca, vale desde 2008.
Em abril desse ano, representações do
Governo do Estado e da Prefeitura Municipal de Belém se reuniram para
discutir o Projeto Vida no Trânsito, do Ministério da Saúde - cuja
finalidade é integrar ações sobre lesões e mortes causadas pelo
trânsito, além de identificar os fatores de risco principais e grupos
de vítimas mais importantes. À ocasião, foi divulgado que, de acordo
com o Sistema Nacional de Mortalidade (SIM), o Pará registrou 1.286
mortes por acidente de trânsito, em 2012; 1.333 em 2013, e 229 nos
primeiros meses de 2014. Dizer que esse número vem crescendo de lá para
cá é desnecessário.
O técnico em Segurança e Educação no
Trânsito da Superintendência de Mobilidade Urbana (SeMob), autarquia da
PMB, Manoel Pinheiro, afirma que são constantes as ações em conjunto
da SeMob com o Departamento de Estado de Trânsito (Detran-PA), e outras
frentes, como Polícia Militar, Polícia Rodoviária Federal e outros
órgãos de Segurança Pública estaduais, mas que 70% da eficácia das
operações ainda dependem da responsabilidade do condutor. “Não adianta
blitz, redutor de velocidade, multa se a gente não puder contar com o
fator humano. Temos feito ações em conjunto principalmente à noite e
durante a madrugada, em trechos que são definidos em cima da hora e
onde não podemos ficar por muito tempo, já que as pessoas avisam umas
às outras, ou em programas que mapeiam as blitzes pela cidade ou pelo
celular”, explica.
“SEM DAR CONTA”
“SEM DAR CONTA”
“Seja Detran, PM ou SeMob, não há como
dar conta de todos os locais por uma questão de quantitativo de
servidores, então se o carro feito para receber até cinco passageiros,
mais do que isso implica em manobras mais difíceis, menos capacidade de
frenagem. Se o condutor tiver bebido, aí os reflexos ficam
prejudicados, o número de pontos-cegos no veículo aumentam. Em todas as
operações que temos feito, inclusive contando com alguns bares e
restaurantes como parceiros, que disseminam a cultura do ‘motorista da
rodada’, do ‘se beber, não dirija’, ou ‘se beber, vá de taxi’, a gente
sempre reforça que a responsabilidade começa sempre com o motorista”,
ressalta Pinheiro.
Pesquisadora na área de mobilidade
urbana e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), Patrícia
Bittencourt Neves, defende a necessidade de ações mais direcionadas e
campanhas mais adequadas à realidade da região, e permanentes. “A minha
percepção é de que há muita reprodução de campanhas nacionais, e acho
que é preciso ir além. Agora em setembro temos a Semana Nacional de
Trânsito, aí tudo bem, mas ao longo do ano, é preciso que cada cidade,
cada região tem um plano de ações feito de acordo com as estatísticas
locais de acidentes mais frequentes e os fatores de risco. Acho que
Belém, que o Estado deixa a desejar nesse sentido. O número alto de
acidentes de moto é uma realidade nacional, mas é preciso ver a
natureza dos acidentes em cada local”, sugere. A entrevista foi
concedida ao DIÁRIO por telefone, já que Patrícia está em um evento na
capital do Rio Grande do Norte, em Natal, e os poucos dias de estadia
no Nordeste já renderam uma comparação interessante. “Do aeroporto para
o hotel, fomos parados em uma blitz com bafômetro. Meu irmão, que mora
em Belém, ficou surpreso, porque ele estava dirigindo e comentou que
nunca foi solicitado a fazer o teste na cidade onde mora. Essa
fiscalização direcionada também pode fazer a diferença no Pará”,
avalia.
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