Tem algo de muito estranho acontecendo
no reino do Instituto de Assistência dos Servidores do Estado do Pará
(Iasep). Pelo menos é o que aponta o Portal da Transparência do Governo
do Estado, onde são informadas todas as transações feitas na
administração estadual. O Belém Online descobriu que duas compras de um mesmo
produto, feitas junto a fornecedores diferentes, se deram de formas
absurdamente opostas. A compra se refere a próteses de titânio,
totalizando oito peças (quatro em cada compra), sendo que na segunda
aquisição o instituto pagou - pasmem! - um valor quase 200 vezes maior
do que foi pago na primeira compra, pela mesma quantidade de próteses.
Detalhe: tudo feito sem licitação.
FAVORECIMENTO
FAVORECIMENTO
As duas compras foram feitas por
inexigibilidade de licitação. Na primeira delas o Iasep encomendou à
empresa Bioflex Comércio de Materiais Hospitalares Ltda., localizada na
rua Antônio Barreto (Umarizal) quatro unidades de “Prótese em Titânio,
Orbital, para reconstrução de osso, com 8 furos”. Pagou pela
encomenda, no dia 14 de julho, R$ 7.096.
Pelas mesmas quatro próteses, com a
mesma especificação da adquirida na empresa Bioflex, só que desta vez
adquiridas junto à empresa Delta-Comércio Varejista de Artigos Médicos,
o Iasep desembolsou o valor de R$ 1.400.000, ou mais de 197 vezes o
que foi pago à primeira empresa, sem qualquer justificativa. No dia
17/07 o instituto fez o primeiro pagamento à Delta pela encomenda no
valor de R$ 1.201.560,37.
LICITAÇÃO IGNORADA
LICITAÇÃO IGNORADA
O mesmo Portal da Transparência mostra
que a empresa Bioflex Comércio de Materiais Hospitalares Ltda. já
recebeu este ano do Iasep R$ 484.515,11, contra R$ 7.345.793, pagos a
Delta-Comércio Varejista de Artigos Médicos.
De acordo com a lei, a compra pode ser
feita sem licitação se não houver possibilidade de competição entre
fornecedores, ou porque o ofertante do serviço ou o produtor ou
fornecedor do bem desejado é único. Em resumo: uma única empresa está
em condições de atender ao interesse público. O pressuposto aqui é a
própria impossibilidade de competição.
A norma não se aplica no caso em
questão: ora, se tanto a empresa Bioflex Comércio de Materiais
Hospitalares Ltda. como a Delta-Comércio Varejista de Artigos Médicos
forneceram o mesmo produto para o Iasep, existem no mercado paraense
pelo menos duas empresas aptas a fornecer o material, tornando viável a
concorrência. A pergunta é: por que a licitação não foi aplicada?
IASEP NÃO EXPLICA A DISPENSA DE LICITAÇÃO
Em nota encaminhada para o Belém Online na última sexta-feira à noite, Maria Lúcia Silva Souza, diretora
de Assistência à Saúde do Iasep, informa que cerca de 200 pacientes do
instituto são atendidos mensalmente com materiais cirúrgicos da
Empresa Delta. “O valor mensal pago pelo Iasep à empresa, por todos os
materiais desses pacientes, é inferior ao valor mencionadopor um jornal da região [R$ 1,4 milhão]”. Nesse aspecto a nota não esclarece nada, não
revelando valores e quais materiais são comprados. Também não explica
se os 200 pacientes citados usam ou não as próteses.
Segundo ela, o valor das próteses é
tabelado pelo órgão, bem como dos demais materiais cirúrgicos
adquiridos. “Esses materiais são adquiridos pelo Iasep através de
processos administrativos que passam por auditoria médica e auditoria
técnica. Os processos são todos entregues à auditoria do Tribunal de
Contas do Estado”, diz. A nota reafirma o óbvio na administração
pública e não explica se os processos administrativos se referem a
compras ou licitação.
Os processos que envolvem
inexigibilidade de licitação, segundo Maria Lúcia, são realizados
somente quando as empresas credenciadas junto ao Iasep não possuem
algum material solicitado. “Na atual gestão, iniciada em 16 de janeiro
de 2014, não houve nenhum caso de inexigibilidade”. Fica a pergunta: se
não foi na atual gestão, quem fez o processo de compra das próteses
com inexigibilidade? Em qual gestão? Quais critérios para a dispensa da
licitação? Quais os motivos para a absurda diferença de valores? Como
explicar que em apenas três dias de diferença de um pagamento pro
outro, o produto tenha se valorizado 200 vezes?
Segundo a diretora “houve um erro no
preenchimento dos dados divulgados no Portal da Transparência”. Ela
afirma que entrará em contato com o Portal da Transparência para que
sejam feitas as devidas correções e que sejam melhor detalhados, nas
telas do site, os itens contidos nas notas fiscais de ordens bancárias
executadas pelo Siafem, “para que qualquer cidadão possa entender como
são feitos os pagamentos do órgão”. A diretora, por fim, não informa
qual foi esse erro.
Com a palavra - se é que falam ou fazem algo - o Ministério Público e o Tribunal de Contas do Estado.
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