Quem conhece o que seria o Estádio Municipal de Ananindeua, no bairro
Guajará, um dos mais abandonados, se depara com um monumento ao
desperdício do dinheiro público, símbolo da inepta administração do
ex-prefeito peemedebista Helder Barbalho (2005-2012) à frente do segundo
maior município do Pará, na Região Metropolitana de Belém.
Abandonado num gigantesco terreno baldio, tomado pelo mato, cheio de
poças d´água e de caminhões e tratores depenados por vândalos,
abandonados ao sol, sujeitos às intempéries do clima, o que seria um
moderno estádio – que, inteiramente concluído, teria capacidade para
abrigar 25 mil torcedores –, virou ponto de encontro para mendigos,
desocupados e drogados.
“Este estádio será um marco para o município e ainda vai trazer mais
desenvolvimento para o esporte e o lazer de Ananindeua”, chegou a
festejar o então prefeito Helder Barbalho, ao lançar a pedra fundamental
do estádio, localizado – um contra-senso - a menos de cinco quilômetros
do Mangueirão, o Estádio Olímpico do Pará, na avenida Augusto
Montenegro, com capacidade para 54 mil torcedores sentados.
Helder anunciou publicamente que o novo estádio de Ananindeua, além
de abrigar partidas de futebol, também proporcionaria atividades para os
alunos da rede municipal de ensino no programa “Bom de bola, Bom, de
escola”, outro factóide que nunca saiu do papel.
O arremedo de estádio foi batizado carinhosamente pelos moradores das
redondezas de “Bandão”, e não sem motivo: apenas uma banda das
projetadas arquibancadas chegou a ser construída, não servindo
absolutamente para nada. O campo de futebol serve para peladas de
garotos do bairro que conseguem autorização do vigia da empreiteira
responsável pela obra, paralisada há mais de dois anos.
A construção do estádio municipal seria resultado de um convênio
firmado entre a Prefeitura de Ananindeua, na administração de Helder
Barbalho, com o Ministério dos Esportes e a Caixa Econômica Federal, mas
tudo não passou de um sonho megalomaníaco.
Aberta a licitação pública pela PMA, saiu-se vencedora a empreiteira
Delta Construção S/A – que se tornou conhecida nacionalmente depois de
comprovado seu envolvimento com a contravenção na Comissão Parlamentar
de Inquérito do Carlos Cachoeira. A Delta venceu a licitação pública
para a execução da obra, mas o contrato firmado com a Prefeitura de
Ananindeua acabou sendo cancelado por motivos nunca esclarecidos pelo
ex-prefeito.
A Delta Construção pertence ao empresário Fernando Cavendish e ficou
famosa nacionalmente pelo seu envolvimento com o bicheiro goiano
Carlinhos Cachoeira e por ter tido como consultor o ex-chefe da Casa
Civil do governo Luiz Inácio Lula da Silva, o mensaleiro condenado pelo
Supremo Tribunal Federal (STF) José Dirceu, que continua preso no
Distrito Federal.
O “Escândalo Cachoeira” acabou provocando a cassação do mandato do
então senador Demóstenes Torres (DEM-GO), que foi investigado em uma
Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado e que atuava como uma
espécie de consultor do contraventor Cachoeira.
O contrato firmado pela Secretaria Municipal de Saneamento e
Infraestrutura de Ananindeua, na gestão de Helder Barbalho, com a Delta
Construção, foi de R$ 23,4 milhões. Desse total, R$ 19,4 milhões foram
anulados e R$ 1,29 milhão repassado à empresa, segundo informa a atual
gestão da Prefeitura de Ananindeua.
Com o cancelamento do contrato com a Delta Construção, uma nova
licitação foi feita pela Prefeitura de Ananindeua e a empresa vencedora,
desta vez, foi a Visatec, que ficou responsável pela obra, que não teve
continuidade e está parada há mais de dois anos.
O estádio municipal é apenas uma das muitas heranças malditas que
Helder Barbalho deixou para o seu sucessor, o atual prefeito Manoel
Pioneiro (PSDB), que não sabe o que fazer com o “elefante branco” que
recebeu, uma obra “fantasma” implantada num terreno baldio, que não
serve para absolutamente nada.
Sim, o estádio “fantasma” de Helder Barbalho continua lá, no mesmo
lugar, num grande terreno localizado num dos bairros mais pobres de
Ananindeua, símbolo do desperdício de verbas públicas.
O que não se sabe até hoje é o que foi feito com o dinheiro liberado para a execução da obra.
Pioneiro quer saber para onde foi o dinheiro
“Não sabemos para onde foram os recursos, de cerca de R$ 11 milhões.
Ficamos com uma obra inacabada e com muitas pendências apontadas em uma
auditoria preliminar, onde as medições apontaram que seriam necessários
ainda R$ 2 milhões para a sua conclusão”, afirma o prefeito de
Ananindeua, Manoel Pioneiro, sobre o estádio “fantasma” que herdou de
Helder Barbalho.
Governando Ananindeua pela terceira vez, Manoel Pioneiro lembra que
já solicitou uma nova auditoria nas obras do estádio municipal para
saber a destinação dos recursos efetivamente liberados. “Pedimos uma
nova auditagem para avaliar se temos a condição de concluir essa obra,
que não colocamos em prioridade porque a população de Ananindeua
enfrenta muitas necessidades urgentes”, garante.
O prefeito cita como exemplo de prioridade em sua gestão os
investimentos em saneamento básico – e não em estádios grandiosos -, já
que levantamento feito pelo próprio Ministério das Cidades em 2011,
durante a administração de Helder Barbalho, apontou Ananindeua como o
pior município do Brasil em saneamento.
“Estamos levando saneamento para diversos bairros da cidade e, em
pouco mais de um ano, conseguimos fazer muito do que não foi feito em
oito anos”, garante Pioneiro. “Hoje estamos com canteiros de obras em
muitas áreas de difícil acesso de Ananindeua, e queremos chegar na
maioria dos bairros para abandonar essa condição de déficit no
saneamento”, conclui.
Outro lado
“Em razão do cancelamento do contrato, nenhum centavo foi pago à
Delta Construções S/A pela obra de construção do Estádio Municipal
durante a minha gestão”, afirma o ex-prefeito Helder Barbalho em nota
publicada em seu próprio jornal diário.
Helder Barbalho diz mais: “Por força do convênio, nenhum pagamento
para a empresa que executa a construção do estádio pode ser feito sem a
aprovação da Caixa Econômica Federal, que fiscaliza o serviço e libera o
dinheiro”, afirmou Helder Barbalho, na nota oficial. Há controvérsias.
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