
São Paulo - A equação de cautela na concessão e crédito mais caro, além de receitas maiores com serviços, foi a forma encontrada pelos bancos para lidar com a inadimplência. Depois do ciclo de aumento de calotes, que teve início em 2011 e atingiu o seu auge em junho de 2012, chegando a 6% (atrasos de mais de 90 dias), as instituições financeiras se tornaram mais cuidadosas na oferta de empréstimos. Segundo analistas, os bancos públicos também estão tirando o pé do freio após terem liderado o processo de redução das taxas de juros em 2012, sob recomendação do governo federal.
'Há um claro processo de desaceleração do crédito nos bancos públicos, depois de um ciclo forte de oferta. Depois da explosão da inadimplência, a conta chegou. As instituições estão focando em modalidades de crédito mais seguras', diz Luis Miguel Santacreu, analista de bancos da Austin.
Entre elas, está o crédito consignado, cujo desconto é feito diretamente no salário do cliente. Também estão nessa categoria, as operações de crédito imobiliário, cujo imóvel é a garantia. No caso do Itaú, em junho de 2013 o estoque de consignado no banco equivalia a 12% do total de empréstimos da pessoa física. Já em junho desse ano, essa fatia tinha passado para 17,3%.
'Os bancos repensaram seus modelos de crédito, já que o contexto econômico mudou. Os brasileiros estão mais endividados, inflação está no teto da meta e o país cresce pouco, o que traz insegurança', diz Santacreu, da Austin.
Bradesco e Santander, entretanto, mostraram aumento da inadimplência, na comparação trimestral, tanto de pessoas físicas quanto de jurídicas. BB e Caixa apresentaram ligeiras elevações. Já o Itaú Unibanco reduziu um pouco essa tendência. Os bancos dizem que não esperam aumento da inadimplência, mas os números da Serasa Experian mostram que ela já começou a subir entre as empresas e deve subir também entre as pessoas físicas.
Apesar de uma alta na inadimplência não estar descartada também nos próximos trimestres, ninguém acredita que os índices voltem ao patamar de 2012. Isso explica o porque as provisões para devedores duvidosos (a reserva que os bancos tem para lidar com possíveis calotes) ter tido no segundo trimestre do ano um recuo nas instituições privadas de 8,5% em relação a igual período do ano passado, chegando a R$ 11,1 bilhões. No BB, a provisão subiu 8,4% no segundo trimestre.
'É possível que haja alguma piora por conta do baixo crescimento, mas não chega a ser preocupante. E vemos os spreads mais do que compensando um possível aumento dos gastos com inadimplência', afirmou Riva, da GBM.
Estímulo ao crédito
No último dia 25 de julho, o governo divulgou novas medidas para estimular a oferta de crédito. O objetivo é que a economia retome o fôlego, através do aumento do consumo. O Banco Central mudou algumas regras do setor financeiro, injetando, potencialmente, R$ 45 bilhões em forma de crédito na economia. A principal foi sobre os chamados depósitos compulsórios (parte do dinheiro depositado pelos clientes que os bancos são obrigados a recolherem aos cofres do Banco Central). O BC deixou de remunerar metade dos compulsórios sobre os depósitos a prazo (CDBs, por exemplo). Ou seja, se a instituição não emprestar esse dinheiro, ele ficará parado sem render nada nos cofres do BC.
Para que essas medidas tenham efeito, o governo quer facilitar a retomada do bem, em caso de inadimplência, a fim de vencer a resistência dos bancos em conceder crédito, conforme reportagem do GLOBO. Para isso, o Ministério da Fazenda está discutindo com as instituições financeiras e o Ministério da Justiça um pacote de medidas, com objetivo de tornar mais ágil o processo de execução da garantia, que é o próprio bem financiado.
Em reunião com o ministro Guido Mantega, os principais representantes dos bancos do país avaliaram que as mudanças terão efeito positivo sobre a oferta de crédito, mas ninguém espera um crescimento expressivo como no passado ou que o efeito seja imediato, como deseja o governo.
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